domingo, 6 de outubro de 2013

CONTRA TEMPOS DA VIDA À INDIVÍDUO COMUN

Como podemos curar as nossas feridas? Estas as quais já cicatrizadas Que quando “colocamos o dedo” escorre o sangue da angústia. Como estancar esse sangue? O sangue da “vida”, mas também o da “morte”. Farpas introduzidas em nossa alma que doem e incomodam. Lembranças recalcadas que vêm à tona. Nós seres humanos somos difíceis de entender e lidar. Somos apenas carne sangue. Mas dotados de qualidades inigualáveis, seres individuais, únicos. Tão semelhantes e próximos, mas em contrapartida distintos e imprevisíveis. Ademais, todos nós temos a capacidade de fazer escolhas tanto para o “bem” como para o “mau”. Porém hoje a sociedade é alienada do originário e sublime altruísmo. Nosso egocentrismo é a primazia em nossa vida. Apesar de ter minhas faculdades de raciocínio intactas às vezes ajo como tais seres. Trilhamos uma longa estrada, com pedras e pedregulhos da vida. Andamos cuidadosamente por esta estrada, com olhos atentos para não bater-mos às enormes pedras. Porém não prestamos atenção às pequenas pedras, aparentemente insignificantes e inofensivas. E por este descuido, por meio delas, tropeçamos e caímos às vezes um belo tombo, que pode ser difícil de reerguer. Antes acreditava que era firme como uma rocha, hoje, porém em alguns momentos frágil como a porcelana. Meus instintos estão extremamente aguçados o que ofusca a minha maior aliada “A razão”. E esta razão e o bom senso parecem estar remotos, e distantes em muitos momentos... Perdidos em algum lugar da minha natureza sinuosa... Sinto a culpa alfinetando meu âmago... Sentimentos irresolutos e pergunto-me se estes podem ser remediados. Respostas não existem, mas caminho em busca de tal. Compreender os significados que a vida tem colocado em minha frente, não me deixa tão certo de que estou sendo conduzido em lugares sólidos. Vejo pelo caminho pedregulhos que aparentemente é impossível saltar e enxergar o que me aguarda do outro lado. Mesmo sabendo que às vezes não tem nada de meu interesse, sempre como ser humano curioso que sou, quero viajar e transpor essas montanhas que saltam meus olhos. Pode ser que do lado de lá, não tenha nada que seja somatório para vida. Como saberei se nunca fui? Quando terei clareza e tanta certeza se nem ao menos, mergulhei para o outro lado. Se este outro lado é o lugar aonde poucos vão, quero me dirigir para lá. Estando lá, não significa que estou sóbrio, pois as maiores loucuras, não é a resposta que estou lúcido; São momentos como este que vivo, que aparentemente estou elucubrando, que acho correto. Os momentos que não mergulho em pensamentos tão complexos, são momentos que me encontro insano. Sou guiado pela vida, somente aos trilhos de momentos torrenciais. Por: Tiago Lemos

GUIADO PELA INOCÊNCIA

Setembro de 2003, fui presenteado com o melhor que a vida pôde me proporcionar. Recebi o dom de ser pai. Descobri a mais bela alegria que um homem pode ter, que traços lindos e perfeitos...
Nesses dez anos, tivemos algumas experiências marcantes.
Uma delas foi quando eu e minha pequena, com os seus cinco anos de vida, caminhávamos em SP. Apesar de sua pouca idade, já levava sobre seus ombros a responsabilidade de conduzir seu pai pelas mãos. Eu dependeria de seus olhinhos inocentes para não levar alguns tropeços e esbarrões dos transeuntes da cidade grande.
Em um pequeno espaço da calçada, tivemos que desviar de algo que obstruía nosso caminho. O que haveria a minha frente? Não pude enxergar. Continuamos em passos largos, até que...
“Papai, papaiiiii. Cuidado!”, disse minha filha.
“Cuidado com que?” PUFF,PUFF... Eu levava uma bela pancada, acabava de bater o rosto.
Poxa! Não há nada pior para um cego do que se chocar com violência.
“É filha, não tem problema. Você por ser menor que eu, passou por debaixo do orelhão. Tudo bem, eu só bati meu rosto...”
Tudo bem, vida de pai cego é assim. Vamos lá, sempre em frente! Caminhar sempre e nunca parar!!

ESTRANHO É ACHAR NORMAL

Acredite. Quando olho para o restante dos transeuntes e até acho que sou algo que veio do alem. Muitos infelizmente ainda se assustam. Não sei se devo retratar este estranhamento, como estranhamento. Mas quero retratar este olhar, como se eu tivesse saindo de mim. Indo para dentro de outra pessoa. Pessoa essa que teria visão, pois a meu ver, olhar, enxergar me é tão estranho, como ser cego para quem enxerga. Faço uma leitura um tanto quanto desconjuntada de um olhar talvez escuro, mas com minha clareza...
Meu olhar é tão mais claro que o olhar de muitos, pois no meu olhar, enxergo o que vejo, ou até mesmo, o que não vejo por outra ótica. E quem pode contrariar que a meu ver, estou vendo, ou não.
Caminhar pelas calçadas com tantos obstáculos que para você que está lendo este escrito, que rascunho neste papel parece ser “normal”, mas como conseguirei afirmar o grau de normalidade se nunca pude saber o que é, ou não normal. O normal a meu ver pode ser este, pois me acostumei tatear o chão com este “pauzinho” ou “vareta”, ou o nome que queiram dar para os meus olhos. No entanto o normal a seu ver, caro leitor, pode ser um chão sem obstáculos. Obstáculos estes que meus olhos tateiam e por vez não sabem nem ao menos o que é.
E assim vamos caminhando pelas calçadas da vida...
Parece-me estranho, embora seja rotineiro viver a situação que vivo.
Como explicar o que não tem explicação, mas apenas se vive?
Saio de casa, pego aquilo que para gente é uma vareta, pauzinho, muleta, ninguém sabe bem o nome...
Vivo no mundo dos estranhos, eu sou estranho, as pessoas são estranhas, e assim continuo andando.
Para alguns a me ver andar, comenta com um amigo, olha La, isso que é exemplo!
Não sei do que, mas falam que sou exemplo...
Outros, já parecem mais acostumados, olham, e como se estivesse prevendo a tragédia acontecer, assiste de camarote.
Puum! La se vai minha cabeça que bate em um lugar que não consigo saber o que é.
Sinto-me tão estranho, que nem as pessoas que estavam naquela calçada, foram capazes de me avisar de um obstáculo.
Xingo, fico emputecido, mas começo à andar, talvez meu interior diz que isso não será mais estranho, outras tantas vezes vou continuar batendo a cabeça, a perna, e nem precisa fazer
Qualquer estranhamento pra saber que certamente bater algo que mais irrita qualquer cego, seria o rosto
Não sei se por querer, ou pela naturalidade os movimentos começam a sair ritmados, como músicas. Pé direito à frente, bengala para esquerda. Pé esquerdo à frente, bengala para direita. E assim, vou caminhando.
Mais alguns metros nesse ritmo lento, como se estivesse dançando uma música romântica, chego ao farol:
Tenho que ser estranho!
Tenho que vencer meu medo, confiar em pessoas que eu nem conheço, ou seja confiar em um ser estranho, assim como eu, não! Não pode ser como eu, só eu e outros tantos milhões de seres estranhos sabe bem como é ser estranho.
Ufa, chegou uma pessoa!
Acho que vai me ajudar. No mundo dos estranhos não existe comunicação, é simples assim, não precisa perguntar, as pessoas parecem adivinhar meio que por telepatia.
Vem! Diz ela, mas ao mesmo tempo em que me diz para eu ir, me puxa, pela roupa, pela minha vareta, por onde for possível me puxar.
Calma, estou vivo, digo para eu mesmo
E a pessoa que me ajudou? Já sei.
Está aliviada, com a sensação que ganhou o reino do céu.
Ainda bem que deus não julga dessa forma, se não, o que seria do céu? Mas isso nesse momento não me importa, sigo em frente.
Chego ao trabalho, realizo minhas funções como de praxe.
Hora de ir embora, novamente o martírio, cabeçada no poste, puxões nada excitante pelo pau, opa, bengala, mas agora com uma diferença.
A essa altura do campeonato ninguém é mais estranho. Nem mesmo as calçadas quebradas, bueiro aberto, nem mesmo quando caio dentro dele, e uma velha me pergunta:
Você caiu?
E gentilmente, tenho de responder: Não. Estou procurando a porta de minha residência. A senhora pode me informar onde é?
Não, não é mais estranho, estranho seria um cego, um cadeirante encontrar calçadas decentes para andar, com rampas, sem carros sobre elas, sem árvores ou orelhões, em fim uma calçada, pois por enquanto continuo sonhando com o meu estranhamento, e vivendo minha realidade de cego. Se para você que ler isso que descrevo é estranho. Acredite. Também refletindo e refratando minuciosamente nas minhas andanças, me deparei que também sou estranho.
Sou tão estranho, por ser cego. Que me pegam, ou pegam a minha “cegueira”, como estranhamento. Pegam minha ausência visual, para estudarem. Então. Devo ou não afirmar que sou tão estranho, quanto quem “enxerga”.

Por: Tiago Lemos